De repente me toma essa súbita vontade de escrever, escrever tudo! Sobre tudo, ou sobre nada, quem sabe? Mas me falta inspiração, me falta algum sopro, alguma luz divina; luz? Risquei luz, não quero luz, quero as palavras. Tão infinitas e belas como a Aurora. Como Bentinho dizia, quero as tranças de Capitu capazes de envolver o infinito um número inominável de vezes! Paro, fito e removo essa idéia. Busquei a inspiração errada, Assis. Triste dizer, mas digo, tu és grande demais para mim... Tragas-me como os olhos da pequena que inventastes e fico assim a amá-lo com todo meu coração adolescente.
Por Deus! Chega! Isso que dá buscar inspiração em estrelas distantes demais às mãos, me dá vontade de buscá-las com a alma, mas esta pequeninha teima em não voltar para o meu corpo triste. Triste corpo sem amor. E descubro então algo infinitamente mais triste: toda minha prosa lírica se vai como o vento se não tenho este tema. Porque a minha prosa não é libertação, Clarice, a minha prosa se prende ao meu coração apaixonado e não sou capaz de escrever mais nada. As palavras se vão. Simplesmente se vão... E sinto que saberia muito bem falar do pútrido, porque posso muito bem senti-lo. Posso falar do feio, do escuro, do fétido e literalmente mijado (o que poderia ser amor também), mas não vem. Não sei ao certo se há de vir ou se sou eu quem deve criar, a simples ordem dos fatos que mal enxergo me parece mais inexistente ainda. E já não tenho linha de raciocínio. Pra que raciocinar? Nunca precisei disso. Mentira, deveria fazê-lo, sempre, mas fujo porque pensar dói e cansa. Correr desesperadamente para o ato impensado é deveras mais gostoso do que calcular a intensidade deste pulo. Vê como isso é semelhante ao meu amor? Mas que amor? Não tenho nem a ânsia de estar em qualquer par de braços! Não tenho nada! Absolutamente nada! E esse vazio dói, esse buraco infinito, bucólico, niilista, puta que pariu, dói demais.